segunda-feira, 23 de março de 2009

Sobre Ferramentas e Espetáculos - Parte 2

Na primeira parte desta matéria expliquei a origem do teatro, e como ele se espalhou e se apresenta pelo mundo. Agora, nesta postagem, falarei sobre a influência das técnicas teatrais no mundo da Publicidade e Propaganda.

Quando surgiram as primeiras emissoras de televisão no Brasil (década de 1950 a1960), os programas eram transmitidos ao vivo. Desa forma, os "representantes comerciais " das empresas anunciantes, presentes na emissora, tinham além de um tempo apertado, apenas uma chance de passar sua mensagem. Hoje em dia, com a comodidade do vídeo-tape, se o vendedor engasga ou erra alguma fala, basta cortar e gravar a cena novamente.

Mas então, a propaganda de auditório não era como nos dias de hoje. Como não haviam profissionais qualificados no país, passavam a adaptar materiais importados passados por agências como a J.W. Thompson e a McCann Erikson. Nesta época surgiram os "garotos-propaganda".

Responsáveis por protagonizar os comerciais ao vivo, sua participação se resumia a dizer plataformas de texto, somente faladas, onde só se mostrava razão de compra. Ainda, por se tratar de um programa ao vivo, durante a demonstração do produto ocorria algum imprevisto e, como não havia um trinamento de qualidade para estes "garotos-propaganda", tudo ia por água abaixo.

Apenas declamar sobre um produto não serve para convencer o público. Anúncios mais longos, implantados mais tarde, colaboravam muitas vezes mais para o sono e o desinteresse do consumidor do que para persuadí-lo. Mais tarde, com a implantação de cursos e escolas capacitadas na área da Publicidade e propaganda, estes "reclames" assumiram uma nova postura e, reformulados, passarama chamar mais a atenção do público. Mas, o quê o teatro tem a haver com isso? Muita coisa.

O estilo dos comerciais mudou para melhor. E, com essa mudança no estilo da apresentação dos produtos anunciados no meio televisivo, também apareceram muitos elementos comuns à publicidade e ao teatro. São eles:

• Comportamento de palco
No modelo anterior, o representante da empresa dizia o texto publicitário como se lesse uma dissertação, sem emoção, se dispertar o interesse no telespectador.
Já neste novo modelo, houve uma séria mudança no texto, que funcionava muito para o público na época. O texto era lido de forma a vender as emoções, e não apenas o produto. O representante se utilizava do olhar do sorriso, de uma marca-registrada (piscar o olho, um jargão, etc.), se vestia de maneira a combinar com o produto (não, não quero dizer fantasias, mas sim que ele se vesti ade forma mais séria ou mais confortável, dependendo do tipo de produto associado). Assim, voltamos ao significado de cada coisa que era apresentada pelo representante, e na maneira que ele se apresentava. Era o início do uso da semiótica.
Algumas pessoas adquiriam o produto apenas por que o cantor Fulano ou a atriz Cicrana apresentou o produto, ou por que ficaram apaionadas pelo jeito do representante. Não havia mais uma simples leitura de um texto corrido, mas sim uma interação com o telespectador.

• Som
Muitas vezes nos utilizamos de canções para decorar uma matéria na escola ou texto para alguma apresentação. Isto está ligado à atenção que damos mais a uma música do que a algo falado. E este foi (e ainda é) um fator muito explorado na propaganda. Quem não se lembra ou conhece os comerciais da Varig com o "Seu Cabral", "Urashima Tarô" e outros?
A música passa emoção, coloca o espectador na situação, no contexto, mesmo sem letra. No teatro e na propaganda este recurso serve para mostrar ao telespectador o que está acontecendo, o que a personagem sente, qual a emoção a ser passada. Num comercial de automóvel para homens, músicas mais descoladas, mais rápidas para contrastar com carros velozes, potentes. Para carros confortáveis, músicas mais calmas, mais "família". Mais uma vez, não é só o produto em si que é vendido, mas a EMOÇÃO. O conforto, os bons momentos em família. Assim como no teatro, a música é muito importante também na Propaganda.

• Humor
Piadas e personagens irreverentes fazem sucesso tanto na Propaganda quanto no teatro. O humor, se bem aplicado, prende nossa atenção por que nos faz rir.
Algumas teorias dizem que esta "atração" pelo que lhe faz rir se deve à eterna busca pela felicidade do ser humano, fazendo-o estar perto, ser atraído do que/ quem lhe faz rir, o diverte. Mas tudo tem medidas.
Brincadeiras demais passa a idéia de irresponsabilidade, despreocupação com assuntos mais sérios como trabalho e família.

Na próxima parte apresentarei técnicas teatrais, mostrarei algumas peças publicitárias e mostrarei mais de como o teatro e a propaganda são parecidos.